Wanderstop é um cozy game que reflete sobre Burnout

A mais recente aventura narrativa da produtora Ivy Road, publicada pela Annapurna Interactive, Wanderstop é um cozy game que reflete sobre Burnout, a exaustão de trabalhar sem parar em busca de metas impossíveis e a necessidade de parar, refletir e aceitar ajuda. Também é um jogo fofinho onde você toma conta de uma casa de chá em um mundo de fantasia.

Lançado recentemente para PC (via Steam), PlayStation 5 e Xbox Series X/S – onde eu joguei, com uma cópia do  game cedida pela Annapurna – o jogo foi escrito por Davey Wreden, criador do cultuado The Stanley Parable, e por Karla Zimonja, de Tacoma. Só isso já deve ser o bastante para despertar a curiosidade de quem aprecia uma boa aventura narrativa, e embora pareça mais direto ao ponto do que o maior sucesso de Wreden, Wanderstop é um cozy game que transmite sua mensagem em cada atividade e ação, de forma sutil, o que me agradou bastante.

Assista ao trailer de lançamento de Wanderstop:

No jogo, você controla Alta, uma corajosa guerreira e campeã de duelos na arena, que, após muitas vitórias, começou a perder uma luta atrás da outra. Em busca de retomar sua forma e recuperar seu status de lenda da arena, Alta ficou cada vez mais fraca e cansada, e partiu atrás de uma lendária mestra da espada que, segundo ela, poderia aceitá-la e então torná-la a melhor guerreira de todos. Para isso, ela precisava atravessar uma floresta, mas a viagem foi ficando cada vez mais cansativa e difícil, ao ponto que Alta não conseguia mais erguer a própria espada.

Após desmaiar de exaustão na floresta, Alta acorda em uma bela clareira, na propriedade de Boro, um simpático grandalhão que administra Wanderstop, a casa de chá que dá nome ao jogo e se tornará o lar de Alta pela próxima dezena de horas ou mais, enquanto a guerreira recupera suas energias e saúde mental, lida com sua busca incessante por ser uma campeã e aprende a gerenciar o negócio e produzir chá. Wanderstop é um cozy game que consegue entregar tanto uma boa história quanto mecânicas de simulação e gerenciamento muito divertidas. É uma pegada diferente de outras aventuras narrativas, que focam mais na história ou em ambientações mais tensas, como é o caso de Tacoma, ou de um dos meus favoritos, Somerville.

Wanderstop é um cozy game muito envolvente

Vou evitar dar spoilers do desenrolar da história (ou das histórias, já que cada cliente da casa tem seu próprio arco de personagem, surpreendentemente aprofundados) para não estragar a sua experiência, e explicar como é o jogo de fato.

Wanderstop é um cozy game que combina ótima narrativa com mecânicas divertidas de gerenciamento
Cuidar do jardim e descobrir novas plantas é uma das atividades mais divertidas do game

Wanderstop é um cozy game bastante físico, por assim dizer. Alta precisa plantar diferentes tipos de árvores e plantinhas, colher e secar folhas de chá, cruzar as espécies para criar novas variações, manter a propriedade limpa varrendo folhas e podando arbustos, e por fim, preparar chá em uma enorme máquina que mais parece um alambique ou um laboratório de alquimia. Subir e descer pelas escadas, girar alavancas e colocar ingredientes, aquecer a água, é uma ginástica e tanto para, por fim, servir uma xicará de chá perfeita.

São vários processos, alguns mais envolventes do que outros (dá para passar MUITO tempo brincando no jardim e descobrindo novas variações de plantinhas, acredite), mas há um design elegante por trás de todos eles, principalmente da operação da chaleira que ocupa o centro da casa de chá em Wanderstop. Conforme o jogador vai dando mais atenção ao que deveria ser uma simples atividade, seu foco vai para os detalhes, com a execução de cada passo com perfeição, ao invés de focar em coisas como produtividade e a meta de servir o chá perfeito em pouquíssimo tempo para lucrar mais. Ao despejar o chá na xícara, inclusive, há uma sensação de que se está desperdiçando a bebida ou sujando o recipiente… mas a própria bebida excedente alimenta a árvore que sustenta a chaleira, então nada é perdido. E o que importa mesmo é ver os clientes satisfeitos e Alta, cada vez mais, percebendo a importância de parar e respirar, de não pensar apenas nas metas distantes e sim, apreciar o momento e o que está fazendo com seu tempo.

Há uma boa dose de atividades secundárias, bichinhos com os quais interagir e que bagunçam as coisas, dando trabalho para manter tudo arrumadinho. Visitantes chegam ao Wanderstop nem sempre para pedir algum chá, e lidar com cada um deles é o que faz a história avançar, entender suas próprias tramas e como ajudá-los dá um ritmo diferente para a narrativa. O melhor de tudo é que Wanderstop é um cozy game totalmente localizado em português, com menus, legendas e as anotações do caderno que serve de tutorial, tudo em nosso idioma. Você não vai perder nada por não dominar o inglês.

Aventura terapêutica

As conversas entre Alta e Boro são muito bem feitas para desenvolver a personagem
As conversas entre Alta e Boro são muito bem feitas para desenvolver a personagem

Wanderstop é um cozy game que alerta sobre os perigos do Burnout e também sinaliza a importância de procurar ajuda e terapia – e que reconhece que nem sempre é fácil dar esse primeiro passo. A trama é bem escrita e pode nos parecer óbvia, com observadores externos, mas o próprio gameplay traduz em ações os conselhos de Boro e a percepção de Alta sobre seu estado mental, dando uma nova perspectiva para a jovem guerreira obstinada.

Se você está procurando um bom jogo narrativo para relaxar e que, mesmo assim, vai fazer você pensar, Wanderstop é uma ótima pedida. E para quem curte um joguinho aconchegante de simulação e gerenciamento, este novo lançamento da Annapurna Interactive não vai desapontar. Wanderstop é um cozy game que consegue entregar tanto uma boa história quanto atividades divertidas para prender a atenção do jogador – e sem que uma coisa esteja dissociada da outra!

Wanderstop é um cozy game caprichado e está disponível para PC, PS5 e Xbox Series X/S.

Pablo Raphael produz conteúdo sobre jogos e cultura nerd/geek desde quando isso não era tão legal assim. Fã de RPG de mesa, live games, quadrinhos independentes e cerveja artesanal.

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