Kingdom Come: Deliverance II é RPG medieval sem dungeons nem dragões – e é ótimo!

Quase dez anos atrás, a produtora independente Warhorse Studios conquistou uma legião de fãs com seu projeto dos sonhos: Kingdom Come: Deliverance, um RPG de ação ambientado num mundo aberto baseado na Europa da Idade Média real, sem dungeons nem dragões, magia, nada disso. A ideia de se aventurar em um mundo onde não se podia resolver tudo na base da espada e magia, cheio de intrigas políticas e atividades cotidianas, elementos de sobrevivência e muita liberdade de escolha fez do projeto um sucesso no financiamento coletivo na plataforma Kickstarter, que entregou suas promessas em 2018, quatro anos depois da campanha ter começado.

Agora, em fevereiro de 2025, chegou a hora de continuar a aventura de Henry, não mais o mero filho do ferreiro, mas um soldado na Boêmia do século 15, em Kingdom Come: Deliverance II, um jogo que melhora e expande as ideias e o design daquela aventura idealizada pela Warhorse.

No game, Henry marcha ao lado do nobre Hans Capo, como seu guarda-costas e melhor amigo. O jovem grandalhão segue com seus assuntos pendentes: recuperar a espada do pai, se vingar de Ishvan e meio que achar seu lugar no mundo. O reino da Boêmia, por sua vez, não tem tempo para os dilemas de Henry: há uma guerra pelo trono acontecendo entre o Rei Venceslau e seu meio-irmão Sigismundo, enquanto mercenários da Hungria saqueando os campos – belíssimos, diga-se de passagem – do reino.

Mesmo para quem não jogou o game anterior, é fácil entender o que está rolando, quem é o protagonista e quais seus objetivos iniciais, tudo bem contado nas primeiras horas do jogo, que servem tanto para dar um contexto para a aventura quanto como tutorial de combate, furtividade, alquimia e diálogos. Você também vai fazer suas primeiras escolhas, que definirão as habilidades de Henry, e tentar se entender com os menus e inventários.

Kingdom Come: Deliverance II pode ser um pouco intimidador em suas mecânicas, principalmente no gerenciamento dos itens, armaduras e alguns dos sistemas mais sutis, como reputação, fome e sede, entre outros. O combate é mais simples (e melhor) do que no primeiro jogo, mas pode levar um tempo para quem está acostumado com RPGs mais “hack ‘n’ slash” se acostumar. Acredite: Erguer uma espada para resolver um conflito deve ser sempre sua última opção, exceto quando for a única.

Há muita coisa para ver e fazer no dia a dia medieval do novo Kingdom Come
Há muita coisa para ver e fazer no dia a dia medieval do novo Kingdom Come

Uma coisa que ajuda bastante na compreensão do jogo, tanto da história quanto dos sistemas, é a localização para o português do Brasil. Kingdom Come: Deliverance II conta com legendas e menus em nosso idioma, tanto nas excelentes cenas de corte quanto nas conversas casuais que rolam durante o jogo – é uma apresentação toda cinematográfica, com as legendas próximas da cabeça de quem está falando e as fontes utilizadas são um charme a parte. O cuidado com os detalhes é inegável na nova produção da Warhorse Studios e como a câmera é em primeira pessoa, a imersão é excelente e permite que o jogador aprecie ainda mais esse mergulho na Boêmia medieval.

Kingdom Come 2 é um simulador medieval?

Com esse foco no realismo e muitos números sendo calculados por baixo do capô, Kingdom Come: Deliverance II me lembra muito uma campanha de GURPS, um dos meus RPGs de mesa favoritos. Fome e sede, a resistência e o peso de cada peça de roupa, a qualidade desses itens, tudo tem algum impacto no jogo, mas pode até passar despercebido pelo jogador, pois esses efeitos se aplicam naturalmente ao gameplay.

Mesmo que o combate seja só uma opção para resolver conflitos, a guerra está rolando e não faltam oportunidades para entrar em ação!
Mesmo que o combate seja só uma opção para resolver conflitos, a guerra está rolando e não faltam oportunidades para entrar em ação!

O jogo é quase um simulador de vida medieval, suas missões não tem soluções únicas e podem ter desfechos diferentes sem levar a um imeditado “Game Over”. Meu Henry é um guerreiro fortão, mas de bom coração e com alguma lábia, então eu sempre tento resolver as coisas na conversa e, às vezes, com os punhos. Se você só quer esmerilhar Orcs e mortos-vivos, talvez não seja a melhor pedida, mas se você quer um jogo medieval para “perder” muito tempo explorando e gerenciando sua vidinha, Kingdom Come: Deliverance II é o que há de melhor atualmente.

O sistema de “save” teoricamente é tão limitado quanto no Kingdom Come original. É preciso dormir em uma cama que pertença a Henry para salvar o progresso. Ou sair do jogo e salvar. Dormir na cama de outra pessoa pode resultar em um encontro com o xerife e talvez uma boa dose de humilhação em praça pública. Mas você também pode encontrar ou ganhar Schnapps Salvadores, uma poçãozinha que permite salvar o jogo ao ser consumida – e eles são bem mais frequentes nesse jogo do que no original, ainda bem!

Nem tudo são flores e há alguns probleminhas técnicos, que a Warhorse Studios vêm lutando para eliminar a cada atualização que o jogo recebe. Eu recebi minha cópia do jogo para Xbox Series e o único problema recorrente que encontrei é a ausência de som nas cenas de corte – que resolvi indo ao menu de Configurações e “reconfirmando” as opções de Áudio. Infelizmente, tenho que fazer isso toda vez que inicio o jogo, ao menos por enquanto.

Um dos melhores RPGs do ano

Ainda estamos em fevereiro e 2025 promete ser um dos melhores anos da atual geração de videogames, com MUITOS lançamentos de peso vindo aí, ainda mais para os fãs de RPGs. Nesse sentido, a Warhorse Studios saiu na frente ao lançar seu jogo tão cedo e quem busca uma grande aventura e um mundo aberto fantástico – mesmo que sem nada de “fantástico” – deveria dar uma chance para Kingdom Come: Deliverance II, que certamente é um dos melhores RPGs do ano.

Se você vai jogar no PC, vale dar uma olhada nos requisitos de sistema para curtir a aventura da melhor forma possível:

Mínimos:

    • Requer um processador e sistema operacional de 64 bits
    • SO: Windows 10 64-bit (ou mais novo)
    • Processador: Intel Core i5-8400, AMD Ryzen 5 2600
    • Memória: 16 GB de RAM
    • Placa de vídeo: NVIDIA GeForce GTX 1060 (6GB), AMD Radeon RX 580
    • Armazenamento: 100 GB de espaço disponível
    • Outras observações: Requer SSD

Recomendados:

    • Requer um processador e sistema operacional de 64 bits
    • SO: Windows 10 64-bit (ou mais novo)
    • Processador: Intel Core i7-13700K, AMD Ryzen 7 7800X3D
    • Memória: 32 GB de RAM
    • Placa de vídeo: NVIDIA GeForce RTX 4070, AMD Radeon RX 7800 XT
    • Armazenamento: 100 GB de espaço disponível
    • Outras observações: Requer SSD

Ah, e mesmo eu optando por jogar no Xbox Series X, dei uma pesquisada sobre como é a experiência de jogar Kingdom Come II no Steam Deck e, para minha surpresa, parece que o jogo roda muito bem no portátil da Valve!

Kingdom Come: Deliverance II está disponível para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X/S.

Pablo Raphael produz conteúdo sobre jogos e cultura nerd/geek desde quando isso não era tão legal assim. Fã de RPG de mesa, live games, quadrinhos independentes e cerveja artesanal.

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