Freedom Wars Remastered resgata tesouro do PS Vita
Freedom Wars chegou na última semana aos consoles atuais, em uma remasterização caprichada que trouxe não só gráficos melhorados, mas ajustes técnicos e uma localização em português do Brasil muito bem vinda. O jogo original foi lançado em 2014, exclusivo para o PlayStation Vita – não exatamente o mais popular entre os videogames portáteis, tenho que admitir. Um dos méritos de Freedom Wars Remastered é justamente resgatar um verdadeiro tesouro do PS Vita.
Caçadores de monstros
No começo dos anos 2000, o Nintendo DS e o PlayStation Portable reinavam entre os consoles no Japão, de uma forma que a gente nunca viu por aqui. Entre os maiores sucessos do PSP estava a franquia Monster Hunter, da Capcom. Os jogos de caçar monstros só foram se popularizar pno ocidente com a chegada de Monster Hunter World, mas em sua terra natal, a franquia era um sucesso daqueles que ditam modas, com todo mundo querendo replicar a fórmula e emplacar seu próprio jogo de caçar monstros.

Isso acontece com frequência no mundo dos jogos e não é ruim: quando Street Fighter II estourou, todo mundo queria ter um jogo de luta para chamar de seu. Quando DOOM conquistou os PCs da garotada, foi o mesmo com os jogos de tiro em primeira pessoa. Ou Resident Evil e o boom dos jogos de survival horror e assim por diante. O resultado não é necessariamente ruim: Mortal Kombat e King of Fighters vieram do estouro de Street Fighter, por exemplo. Mas já estou derivando demais. De volta à Monster Hunter e Freedom Wars.
Esse contexto é importante para explicar que com a chegada do PlayStation Vita e a ausência de um Monster Hunter dedicado para a nova plataforma portátil – a Capcom estava levando a série para o 3DS e para o Wii – muitos estúdios nipônicos tentaram emplacar o jogo que preencheria essa lacuna, inclusive a própria Sony. Foi assim que surgiram clássicos cult como Soul Sacrifice e o próprio Freedom Wars, um dos melhores competidores na arena dos RPGs de ação e caçada de monstro, nicho criado e popularizado por Monster Hunter.
Prisioneiro no fim do mundo
A trama de Freedom Wars é bem direta: milhares de anos no futuro, os recursos naturais da Terra estão praticamente esgotados e a população humana diminuiu consideravelmente. Essas pessoas vivem em cidades super vigiadas chamadas Panópticos, controladas por um regime autoritário que julga e condena seus habitantes severamente por qualquer infraçãozinha, quase todas bastante questionáveis. Nascer é um crime grave no mundo de Freedom Wars, por exemplo. Dormir ou morrer sem autorização também. Assim, quase todos nessa sociedade distópica são condenados a cumprir 1 milhão de anos de prisão. Essas pessoas são classificadas como Ímpios (Sinners, no original) e precisam reduzir suas penas cumprindo missões de caça aos monstros mecânicos conhecidos como Abdutores, coletando recursos e resgatando cidadãos do Panóptico.
As missões de Freedom Wars são bastante diretas: é preciso lembrar que se trata de um jogo feito para um console portátil em meados da década passada. A ideia era que você jogasse uma ou duas missões, sozinho ou com os amigos, em cada partida. Elas são sequências de combate ágil, movimentação vertical e nas quais o objetivo principal geralmente é resgatar algum civil capturado pelos Abdutores. Nem sempre é preciso eliminar os robôs gigantes, mas é sempre uma forma de garantir alguns anos a menos de pena e mais importante, pontos de elegibilidade.
Com a Elegibilidade, você adquire alguns benefícios para sua vidinha na prisão. Novas armas, módulos para torná-las mais versáteis ou poderosas. Conforme progride, também dá para comprar itens e fazer mudanças cosméticas usando esses pontos.
A maior diferença entre Freedom Wars e outros jogos de caçada, em termos de jogabilidade, é que você pode equipar múltiplas armas ao mesmo tempo, alternando entre elas conforme a necessidade durante a partida. Poder mudar entre uma arma de corpo a corpo pesada e um bom rifle de assalto durante uma batalha é algo que muda bastante o ritmo nesse tipo de jogo, acredite. Também há os Espinhos, uma espécie de gancho que serve para se movimentar verticalmente, alçando alturas impossíveis com um pulo normal, se pendurando pelas paredes e outras possibilidades mais acrobáticas. Você pode usar o Espinho tanto em paredes e plataformas quanto nos próprios Abdutores, uma manobra eficaz para remover escudos e alcançar pontos fracos das criaturas.
Também dá para disparar o Espinho no compartimento onde o Cidadão está aprisionado e, eventualmente, removê-lo do Abdutor no meio do combate. É uma manobra que eu recomendo fazer ao jogar em grupo, pois alguém precisará carregar o precioso Cidadão até a cápsula de fuga enquanto os outros Sinners lidam com um Abdutor nem um pouco feliz.
A mecânica de gancho do Espinho não tem a velocidade que você encontra em Monster Hunter: Rise. É mais parecida com a vista no ganchos de Sword Art Online: Fatal Bullet, outro jogo da Dimps, mesma desenvolvedora de Freedom Wars.
O que há de novo em Freedom Wars Remastered?
Pela própria natureza do jogo original, Freedom Wars tem as limitações de um jogo pensado para rodar em um dispositivo portátil, que ficam mais aparentes nas plataformas atuais que receberam a versão remasterizada. Freedom Wars Remastered está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5 e Nintendo Switch.
Eu recebi uma cópia do jogo de PC (via Steam) da Bandai Namco e preferi jogar no Steam Deck. Embora o game ainda não tenha sido avaliado pela Valve e portanto conte com o ícone de interrogação, pode instalar sem medo de ser feliz: o game roda macio no Steam Deck, com a configuração padrão. E para mim, jogar o game em um novo portátil fez todo sentido, dada minha experiência com o jogo original no PS Vita.

Há melhorias gráficas perceptíveis em relação ao original e aqui no Brasil, é ótimo que o jogo conte com suporte para o nosso idioma nos menus e legendas, pois entre uma caçada e outra, Freedom Wars é um jogo com muito texto, principalmente nas longas conversas entre o Sinner e seu Acessório. Um detalhe que considero mais importante ainda é que agora, você pode equipar e usar os módulos à vontade, um sistema que mudou totalmente em relação ao original, em que o módulo era consumido após o uso. Também há um novo nível de dificuldade mais alto, para quem busca um desafio adicional em suas partidas.
Um detalhe que percebi é que se trata de um remaster do jogo japonês original, sem os Panópticos que foram adicionados no lançamento ocidental. É compreensível, já que o principal público do game está no Japão, mas mesmo assim, uma pena. Quem sabe o conteúdo seja adicionado futuramente via atualizações?
Freedom Wars Remastered é talvez o melhor jogo exclusivo do PlayStation Vita e poder jogá-lo em outras plataformas é um prazer nostálgico para quem foi proprietário do último portátil da Sony. E fica a esperança que, com o jogo chegando a um novo público, quem sabe no futuro a Bandai Namco retorne ao distópico mundo dos Sinners e Abdutores?
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