Magic Sword: Heroic Fantasy e o legado de fantasia da Capcom

Um dos meus jogos favoritos de 2024 foi Dragon’s Dogma 2, RPG de ação da Capcom com um mundo fantástico, monstros enormes e cheio de sistemas para se desvendar. É a sequência de um dos games que mais gosto e após jogá-lo, me peguei com vontade de revisitar o catálogo de jogos de fantasia medieval da Capcom e como eles influenciaram Dragon’s Dogma 2 – e decidi começar do começo, por Magic Sword: Heroic Fantasy, game de ação e plataforma lançado em 1990 nos arcades e dois anos depois para Super Nintendo, já sem o subtítulo.

Você pode até argumentar que Black Tiger seria o começo e está mais ou menos certo: esse outro jogo de ação e plataforma com temas de fantasia saiu em 1987 e também me encantava lá nos fliperamas da infância. Mas eu pessoalmente classifico Black Tiger na categoria de “jogos de bárbaro”, um subgênero que apela para o nicho específico dos fãs de Conan, o Bárbaro – que vai bem além de Golden Axe, inclui títulos como Sword of Sodan, os mais recentes Abathor e Volgarr the Viking e o clássico imbatível Rastan, da Taito, e merece um artigo só para eles. Mas é inegável que Magic Sword compartilha semelhanças de jogabilidade com Black Tiger (embora seja menos punitivo) e não por acaso é considerado seu sucessor espiritual.

Para essa série aqui, o recorte é a linhagem de jogos de fantasia da Capcom que resultara em Dragon’s Dogma, com sua mistura de elementos japoneses e outros vindos diretamente dos RPGs ocidentais. Por isso vou começar por Magic Sword: Heroic Fantasy.

Heróis de Magic Sword: Heroic Fantasy enfrentam hordas de monstros.
Alan, o Bravo, e seus companheiros lutam para avançar pelos 51 andares da Dragon Tower

Projetado por Yoshimi Ohnishi, Tomoshi Sadamoto e Yoshiki Okamoto e um time de 25 artistas e desenvolvedores, Magic Sword: Heroic Fantasy é um arcade de ação e progressão lateral. Nele, o jogador é Alan, o Bravo, um guerreiro fortão de sunga de texugo, armado com uma espada e um escudo, que precisa atravessar os 51 andares da Dragon Tower, uma torre mística para derrotar Drokmar, o feiticeiro louco lá no topo e destruir uma orbe mágica com a qual o arcanista quer dominar o mundo.

Curiosamente, o nome de Alan nunca é mencionado no game, mas está no guia de estratégia do arcade japonês e no manual de instruções da versão de Super Famicom. O personagem do segundo jogador, que só existe no arcade, se chama Belger, mesmo nome dado ao último chefão de Final Fight.

O jogo foi adaptado para Super Nintendo, em uma versão para um só jogador, lançada em 1992. Hoje em dia é fácil encontrar o jogo original de arcade. Magic Sword: Heroic Fantasy foi incluso nas coletâneas Capcom Classics Collection Vol. 2 para PlayStation 2 e Xbox e também em Capcom Arcade 2nd Stadium, disponível para PC, PlayStation 5, Switch e Xbox Series X/S. A melhor versão já é mais rara: o jogo teve uma versão aprimorada com gráficos HD e suporte para partidas co-op online na coletânea Final Fight: Double Impact, lançada apenas para download em 2010 para PlayStation 3 e Xbox 360. Ambos os consoles já tiveram suas lojas online encerradas, infelizmente.

Magic Sword: Heroic Fantasy

Como o herói de Magic Sword, sua tarefa parece bem simples, avançar e abater monstros, chegar ao final de cada andar e abrir a porta para o próximo nível. A maioria dos estágios é totalmente linear, mas é a ação constante que mantém os jogadores envolvidos, sempre esperando pelo que o jogo vai lançar em sua direção. Você pode assistir ao gameplay no vídeo abaixo:

As hordas de monstros que vem de ambos os lados (e alguns, de cima, voando ou caindo do teto) incluem orcs, demônios, múmias, slimes, dragões e coisas piores. Alguns estágios trazem batalhas contra chefes, começando com uma quimera – um monstro que facilmente está entre os favoritos dos jogos de fantasia da Capcom (a quimera também é o primeiro chefe do Dragon’s Dogma original!). Ao contrário de jogos de bárbaro como Black Tiger ou Rastan, aqui o herói tem uma barra de energia, que diminui com o contato com os inimigos e seus ataques, ao cair em armadilhas e até mesmo o passar do tempo. O jogo não quer que você fique parado, é preciso avançar e rápido até o próximo andar da torre!

Para ajudá-lo, o herói conta com armas mágicas e artefatos encontrados em baús. Alguns dão novos tipos de ataque, outros aumentam seu dano ou poder mágico. Também há uma fada providencial, que aparece de tempos em tempos e deixa um rastro de comida para recuperar sua barra de energia. Talvez os principais itens encontrados em Magic Sword: Heroic Fantasy sejam as chaves. Elas são usadas para abrir as celas que aparecem pelo caminho e libertar outros aventureiros. Ao soltar um prisioneiro, ele vai oferecer um item para ajudá-lo e passará a seguir o jogador. Só um companheiro pode se juntar ao herói de cada vez, então libertar ou não se torna uma escolha estratégica.

Algumas fases de Magic Sword: Heroic Fantasy tem chefes no final, como a Quimera
Assim como em Dragon’s Dogma, a quimera é o primeiro chefe de Magic Sword

Esses aliados são personagens super diversificados, começando com uma amazona, um bárbaro enorme, um mago ou um ladrão, cada um com seus próprios padrões de ataque e outras habilidades (com o ladrão no grupo, você consegue enxergar os baús escondidos, que normalmente ficam invisíveis, por exemplo), mas também incluem companheiros como um cavaleiro de armadura, um ninja (!) que dispara shurikens para várias direções e meu favorito, o draconato, um guerreiro alado meio-dragão.

Mesmo que pareça mais simples do que outros jogos de ação e beat n’ up contemporâneos, Magic Sword chama a atenção pela variedade de inimigos, e muitos dos designs de suas criaturas permaneceram em uso e foram aprimorados em jogos posteriores da Capcom – sim, você já viu aqueles orcs e múmias em outros títulos, alguns bastante conhecidos, e outros que vamos abordar nessa série de artigos. O jogo também tem estágios que avançavam em caminhos diferentes, com portas secretas que permitem pular alguns andares, e tem dois finais, um ruim e um bom, dependendo da decisão do jogador sobre o que fazer com o orbe sombrio após o confronto final.

A batalha final de Magic Sword: Heroic Fantasy é contra um poderoso dragão no topo da torre.
Após derrotar o dragão no topo da torre, é preciso decidir o destino do artefato sombrio… e do mundo!

Nunca foi dito oficialmente se existe uma relação entre Magic Sword: Heroic Fantasy e Dragon’s Dogma, mas eu adoraria conversar com Hidetaki Itsuno e com Kento Kinoshita, diretor e designer de Dragon’s Dogma, sobre a influência de Magic Sword e seu sistema de companheiros na criação do sistema de Pawns do RPG. Claro, há muitas diferenças entre os dois sistemas, mas é possível imaginar que a mecânica de companheiro selecionável meio ao acaso do arcade de 1990 seja uma das sementes que um dia, inspiraram os criadores de Dragon’s Dogma. Também vale notar que a Bluemoon Tower de Dragon’s Dogma tem uma semelhança notável com a Dragon Tower que serve de cenário para Magic Sword.

Espero que você tenha gostado desse artigo, o primeiro de uma série sobre os jogos de fantasia da Capcom que podem ter inspirado elementos em Dragon’s Dogma e sua continuação, o recente Dragon’s Dogma 2.

Pablo Raphael produz conteúdo sobre jogos e cultura nerd/geek desde quando isso não era tão legal assim. Fã de RPG de mesa, live games, quadrinhos independentes e cerveja artesanal.

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