Game indie Somerville é jornada intimista por invasão alienígena
Os melhores filmes sobre invasões alienígenas, para mim, são os que preservam o mistério sobre o invasor e focam na nossa pequenez diante de uma civilização capaz de cruzar o espaço para, por algum motivo, dominar a Terra. Melhor ainda, muitos deles também colocam a busca pela compreensão e comunicação com esses visitantes nem sempre amigáveis. O game indie Somerville segue por essas mesmas linhas e é minha obra favorita de Dino Patti, co-fundador da Playdead (estúdio de Limbo e Inside).
Produzido por Patti no estúdio Jumpship, o game indie Somerville tem muita da identidade visual das obras anteriores do game designer: é um jogo que brinca com efeitos de luz e sombra para construir sua Inglaterra devastada por alienígenas, enquanto o protagonista, um pai de família em busca de sua esposa e filho, avançam pelas fases resolvendo quebra-cabeças envolvendo o uso de luzes cósmicas.
A semelhança com Limbo ou Inside fica no estilo e nos quebra-cabeças. O game indie Somerville é uma obra mais intimista, sobre a jornada de um pai através da invasão alienígena, uma busca por compreender o que está acontecendo, entender os seres do espaço sideral e também, descobrir o que o futuro aguarda – se é que sobrou alguma coisa para a frágil humanidade. A história é toda contada sem palavras, apenas com gestos e isso não diminui em nada seu impacto. Mesmo nosso protagonista, só usa a voz para gemer quando está puxando objetos pesados, empurrando um veículo ou ao levar um tombo daqueles.
Até o primeiro contato com os alienígenas, o protagonista de Somerville é só um pai de família comum, cuidando da bagunça que seu filho pequeno aprontou enquanto ele cochilava com a esposa diante da TV ou pegando ração para o cachorro, entre outras preocupações mundanas que todo mundo tem. É a partir da chegada dos aliens que sua vida muda por completo – mas ao invés de se tornar um super-herói ou um salvador da humanidade, o protagonista precisa descobrir o que exatamente ele está buscando.
Esse processo de descoberta vem aos poucos, conforme nosso pai de família cruza as estradas, campos e cidades de um Reino Unido quase irreconhecível, resolvendo puzzles para abrir caminho e se valendo de furtividade para escapar dos invasores, que vasculham as ruínas em busca de sobreviventes para capturar! Há desde feras robóticas ameaçadoras até uma luz rosa vinda do céu, sempre pronta para abduzir o jogador descuidado.
Mas em seu caminho, desde que o jogador seja curioso, há também pequenos alienígenas esféricos que interagem em situações bonitinhas e até engraçadas. Além de servirem como colecionáveis, esses contatos imediatos são pequenas dicas sobre a forma como os visitantes/invasores se comunicam – e isso vai fazer toda a diferença lá na frente.
Game indie Somerville é como um filme sci-fi jogável
Como eu dizia lá no começo, algumas das melhores obras de ficção científica são sobre dramas humanos em meio ao caos muito maior de uma invasão espacial em grande escala – Guerra dos Mundos é legal por isso. Sinais, também. Outros, meus favoritos, são sobre comunicação. Contatos Imediatos do Terceiro Grau, clássico de Spielberg de 1977, é referenciado diretamente em Somerville. A Chegada, filme de 2016 de Dennis Villeneuve (Duna) e Contato, longa de 1997 dirigido por Robert Zemeckis e adaptado do romance de Carl Sagan, é outra inspiração para muitos elementos do game indie Somerville.
É uma aventura curtinha, com cerca de seis horas de duração, o jogo tem quatro finais diferentes – todos possíveis de alcançar, tanto que você provavelmente vai fazer os quatro só para ver o que acontece em cada um deles e escolher o que for “canônico” na sua cabeça. Não é um ‘walking simulator’, ainda bem. Seus quebra-cabeças estão na medida certa e alguns exigem que você explore a área e pense de forma criativa para encontrar soluções. As sequências de furtividade são impiedosas, mas como o jogo é generoso com seus checkpoints, isso não é motivo para frustração. Ainda assim, o protagonista é frágil e mesmo na reta final, com suas habilidades desvendadas, pode morrer facilmente.
Mas é interessante como o jogo não faz da sua morte um espetáculo, diferente do sadismo de Limbo, por exemplo. A tela fica preta e volta para o checkpoint logo antes do evento fatídico. O objetivo do jogo é que o protagonista alcance a conclusão de sua jornada e você, jogador, também quer isso. Somerville é como um ótimo filme sci-fi jogável, que vai envolver você e deixá-lo pensando sobre o que assistiu, ou melhor, jogou, enquanto sobem os créditos finais.
Somerville está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series X/S.
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